28 fevereiro, 2009

vinte e quatro

e não é que gosto (muito)?


vou fazer malas e ficar.

vou parar por um pouco e falhar por um triz
aquilo que podia ser de nós, se eu fosse embora.


vou ser feliz aos bocados
e rir como nunca, depois.

PS: não sei quando volto.



22 fevereiro, 2009

vinte e três

Fazes-me sempre esquecer de te contar o que aconteceu desde a última vez.
O silêncio é menino, ainda agora nasceu. Ainda me vês não falar, a não ter gestos.
Apetece mentir de novo, mentir ainda melhor, sorrir ainda melhor. 
Fazer os mesmos erros pela segunda vez.
Fechar tudo numa caixa, dançar.
Não há fogos de artifício que cheguem.
Dançar.
O tempo voa.
E eu danço.
Puxas-me, dizes-me:
- Pára.

17 fevereiro, 2009

um dia vou escrever um livro...

08 fevereiro, 2009

vinte e dois

já nao sei com que mão escrevo porque vejo ambas as mãos perras logo à primeira letra. tenho ferrugem no que vem de dentro, e fico atrás, na sala, a ver, porque não fico mais um pouco. 

07 fevereiro, 2009

vinte e um

não é o tempo que nos põe bem. vi o relógio dar voltas e nao saí daqui para lado nenhum. tenho-me a olhar a cidade da janela. daqui vê-se mais. vou dar voltas com o relógio, viajar atrás no tempo, nem que seja um segundo atrás.

16 janeiro, 2009

vinte



"Benjamin Button: Some people, were born to sit by a river. Some get struck by lightning. Some have an ear for music. Some are artists. Some swim. Some know buttons. Some know Shakespeare. Some are mothers. And some people, dance. "




"I wanna remember us just as we are now. "



"It's a funny thing about comin' home. 
Looks the same, smells the same, feels the same. 
You'll realize what's changed is you." 



"Your life is defined by its opportunities... even the ones you miss. "

10 janeiro, 2009

dezanove

Nunca tão feliz, à procura de me perder sem perder norte a nada. 
Nunca tão feliz, rio para além do sorriso e vou 
pedindo ao corpo que se habitue.
"Hei-de me rir sem mexer os lábios", peço. 
Que saudades tinha de não falar de amor.



(trago boas novas se te disser que já passou, que não foi nada?
estou bem, melhor que nunca. não foi nada. já passou.)







09 janeiro, 2009

saldos

estou à venda, com descontos até 50%

(de 9 a 18 de janeiro)

05 janeiro, 2009

dezoito









Pintei hoje uma estrela na mão, a lembrar-me para não me deixar crescer. Fiz uma espada de papel, com restos de coisas que te disse e estive para dizer. Fiz um escudo de cartão, com um retrato teu já velho demais. Não vou ter saudades de nada senão de mim, e de aqui ter estado, a querer não crescer. Há anos que o tempo não passa e que não cresço. Luto contra quem me falar em saudade, de espada e escudo nos braços. 






01 janeiro, 2009

dezassete




















Prometo não sair daqui nunca, sem te esquecer antes. 
Tenho a porta quase aberta, um pé já lá fora posto. 
Tenho medo de não ter tempo de te esquecer
Entre o ter saudade do que foi e do que nunca há de ser.

Não leves a peito que te ame
porque é a mim que dói
quando o pé já lá fora posto
quer voltar e puxar do peito
saudade e carne velha.

27 dezembro, 2008

dezasseis


Sei quantos passos foram os que dei até aqui. Sei como ter tudo de volta e voltar. Mas não sei se não é aqui que me quero, a meio caminho de lado nenhum, a ver-te passar. Tenho um ponto escrito na mão e não sei o que era para lembrar, tenho a boca seca de não beijar nada que não vento. Tenho as mãos em concha, a carregar terra, a plantar saudade debaixo. Quero nascer aqui. Ser de onde nunca estive, para tudo ser novo uma e outra vez. Vou escrever histórias do avesso, que comecem onde já só há que olhar para trás e ver de onde é que viemos. Hoje não me sigas,e parte pela noite dentro, à caça de nuvens. Encontramo-nos de certeza.  

(E o meu ponto escrito na mão, lembro-me agora: Pu-lo a tentar imitar um sinal teu.)



Feliz ano novo

quinze

só agora espreito o que tenho escrito sobre ti, nas paredes do quarto. só agora percebo. eu amei-te mesmo, levei-me ao fundo contigo atrás, sem me dares mão nenhuma. eu devia não ter deixado acontecer o que aconteceu. não sou feito disto, sou uma mão cheia de coisas a menos. sou saudade e pouco mais. sou feito de saudade e frio. coisas debaixo, a quererem que eu sinta mais por dentro e eu não deixo. tenho escrito que te amo, em livros que não vão para além disso. e há pouco para além disso. não há nada para além disto que eu deixe os meus olhos verem. 

22 dezembro, 2008

catorze


            “Nunca chorei.”, disse. A mão esquerda a tremer no bolso, a ir depois buscar a lágrima ao olho, a cortá-la pela raiz. A mão direita quase a querer o braço, a segurar mal a mala mal fechada, de ter saído à pressa. Lembrava-me de ali ter estado, mais novo, e umas quantas folhas a mais nas árvores. Quando chovia, em pequeno, empoleirado sobre o banco alto, com os pés entrelaçados, punha o dedo pequeno debaixo da telha furada. Nunca passavam carros para me ver. Era uma coisa minha. O resto da mão fechada e o dedo indicador a segurar gotas de chuva. Depois, se apanhava uma, pisava-a debaixo do olho e via-a cair. “Mãe! Estou a chorar!”. Dizia-me que não. Que quando se chora, os dois olhos quase que liquefazem, ficam vermelhos e a cara vira do avesso uma dor miúda. “Nunca chorei”, e eu tentei.

            Hoje, cedo, quebrava a promessa. Lembrei-me do que éramos para ser, quis ver-te. Quero ver-te. Vou dando passos, a ver quão longe é preciso estar para abrir mão do que tenho de quando ainda éramos, e nunca fomos. Tenho pensado em nós. Queria abrir um livro em branco, escrever o teu nome e fechá-lo. Esquecer-te assim. Pôr o livro num pilha feita de outros tantos iguais, para esquecer. Não tinha que aqui estar, assim.

            Lembro-me de em pequeno contar gotas de chuva e conseguir. Sabia sempre de cor, um dia depois, quantas gotas tinham chovido ontem. Já as contei de olhos fechados, a meio sono, a dormir. Lembro-me de, de olhos fechados quantas ouvia cair no chão, e não dormir mais para não perder em números. Estrelas já não. E eu tentei. Nunca se hão de conseguir contar estrelas. Lembro-me de tentar em noites que passava a esquecer-te. E havia sempre mais uma, no canto do olho, e mil por detrás dela. Lembro-me de as querer roubar, em pequeno. De saber as minhas histórias de cor, para me adormecer feliz. Lembro-me de trazer chuva no bolso para chorar. Ainda não me esqueci de ser pequeno e querer crescer, tão alto quanto nuvens, para roubar estrelas e pintar o sol de outra cor. Lembro-me de caber nos teus braços e querer contar, a par de estrelas, e chuva e saudade, o quanto gosto de ti. Lembro-me de querer escrever o teu nome onde quer que fosse. E escrevi-o num banco de jardim. Mais nada que não o teu nome. E daí o ter vindo à pressa. Quero vê-lo. Ver que não foi assim há tanto. Ainda te quero ver. Quero ver, pelos olhos que não choram, que há árvores agora, com umas tantas folhas a mais. Que tudo mudou, que tudo foi atrás. Mas que o nome escrito no banco de jardim, não. Que há coisas que ficam para lembrar que há coisas que vão. 

20 dezembro, 2008

treze

Eu a dizer comigo, em coro, que vou tentar. O mau hálito a fechar a boca, a mão a tapar a cara vermelha, a noite a ir-se embora com tudo, eu a rir-me porque sim. Amar-te é começar de novo, aprender a contar estrelas. Amar é como contar estrelas. Eu, em círculos pequenos, a querer contar estrelas. A querer contar-te o meu plano. A querer falar de nós e dizer o teu nome, escrevê-lo com batom na janela. 

mr. brightside

16 dezembro, 2008

doze

Tu a abrires-me a cabeça e a girar o dedo mindinho, pequeno, à volta de fios. Tu a arrumares-me por dentro, a pôr coisas pequenas em caixas minúsculas com etiquetas, para saber de que sou feito.
Ontem ía jurar que abracei uma nuvem.
Não me lembro da última vez que tentei. Vi-me andar comigo, e não tentei. Não te disse ao ouvido o que tinha escrito na mão para dizer. Não sou de tentar. Mas eu ontem abracei uma nuvem, e daqui para a frente tudo são abraços mais pequenos, e tudo é sair a perder. As mãos em concha, sem nada. O que vier é meu para sempre. Hei-de tentar isto connosco, levar-nos longe sem notares que tenho as mãos dadas às tuas. Quero-te meter coisas na cabeça. Saudade, para começar. 
Não sei onde queria chegar connosco. Não podemos nunca ficar assim, de mãos dadas como eu queria. As mãos em concha, a quererem lembrar nuvens, e os meus olhos nos teus. 
Eu vou dando passos atrás. A cortar caminho pela paixão adentro, como o que é de nós e nunca foi. Tenho tanto para sermos. Eu ontem abracei uma nuvem e o abraço que quero é o teu. 
Contigo, tento. Meter-te coisas na cabeça que te lembrem de mim. E eu tenho medo e saudade. Sou feito de medo e saudade. Sou metade de uma nuvem.
Já só me ouço falar em nós e hoje soou-me bem.

13 dezembro, 2008

onze

Vou dar passos atrás até deixar de nos ver. 


06 dezembro, 2008

dez

Falei-lhes de ti. Disse ao espelho que te tento fazer rir com algo meu, uma piada nossa, há tempo demais. O fazerem-te rir à minha frente traz-me quase o que seria rires de uma piada nossa. Mas falta ainda aquele pedaço de tempo, ao qual havíamos de voltar uma e outra vez, até doer a barriga, como que isto de te amar a nascer-me pelo peito. Mas contei-lhes. Eu adivinho quem gosta de quem para me sentir fácil de adivinhar. Dei-lhes a última letra do teu nome para adivinharem. A esta hora já devem saber. Mas tu não sabes ainda e é aqui que o círculo acaba por nem nascer. É a primeira vez que me ouço falar em nós. 
Nem sei como soa. 

22 novembro, 2008

nove

O comboio cheio, a tombar pelo caminho adentro, e o sinal de fumo atrás, pelo meio das árvores. Eu sentado, de mãos à volta dos joelhos, a parecer-me contigo, a lembrar um gato preto. As mãos a fazerem sombras nas pálpebras dos olhos castanhos. O fumo a alastrar em rios negros de fumo preto, a morar no céu por cima. O dia a nascer num carrossel de luz a dar nos olhos. Vou-me embora. Trago-te comigo. Prendo um lápis ao céu e não largo nunca, para saber de onde foi que vim e para onde vou com a viagem. 

21 novembro, 2008

oito

Conta quantas vezes te disse que te amava e tu nem um pouco de volta.
Há um mínimo de amor de volta para me fazer contar contigo perto.
Vou escrever a história da minha vida e nem sei por onde começar.
Se em ti, se em nós.

14 novembro, 2008

sons de dentro VI

Não é que não me deixes nunca, mas o sempre é pouco. Também não quero para lá de um "muito tempo" porque há raízes a querer crescer. É por aqui que o corte da planta não dói. Mais um segundo e vêm saudades, tudo de novo. Desta vez tem de passar o tempo a correr, eu a não dar conta. Eu de olhos fechados, a imaginar os contornos dos teus também fechados. A saudade não é nenhuma agora. 
Não há que haver depois.
Amanhã, a saudade ao quadrado e depois pior.
A saudade elevada ao número de passos dados à volta do mundo. 
A saudade ao cubo...

Não me deixes nunca.

06 novembro, 2008

sete

Eu não te quero fazer lembrar ninguém. Quero ter-me de volta ao ver-te, não me perder de vista nunca. Mas o que dói é isto. Os abraços apertados demais a cortar o fôlego, é não saberes que é aqui que fico quando ficas de voltar depressa. É isto que dói. Não ver um único olhar de volta. A palma da mão nua, o pulso a mexer sobre o braço esticado, onde as mangas corridas esvoaçam. A mão, de um lado para o outro. É isto que dói: ter de me ter a mim sozinho de volta. Eu não te quis fazer lembrar ninguém. Quis chegar, não ter nada para além de mim. Ser maior que tudo. 
Lembras-te? As tuas mãos cabiam nas minhas. O que dói é isto: não saber se é de ti de que sinto falta quando o peito aperta contra os braços, quando a voz pára e o meu olhar nasce no teu. 



26 outubro, 2008

sons de dentro V

marcar uma cruz no chão a giz branco, 
no alcatrão quente da estrada enorme. 

 

"é aqui que o mundo começa."

barulhos da casa IV












"Karen, put me in a chair, fuck me and make me a drink
I've lost direction, and I'm past my peak
I'm telling you this isn't me
No, this isn't me
Karen, believe me, you just haven't seen my good side yet
"

24 outubro, 2008

sons de dentro IV

se eu fizer nós de dedos com as mãos, se eu sorrir de volta, 
notas que te amo?

16 outubro, 2008

seis

Uma árvore torta da janela, a cair para o meu lado, a dar-me sombra no canto do olho fechado. O candeeiro estreito, com a luz a tombar para a página revirada no canto. Os pés em círculos a virem ter comigo de novo. O sinal feio a crescer de dentro para fora e a saudade a crescer ao contrário. A crescer do peito, a perfurar carne, a morar no avesso do corpo. Na voz. A vir ter comigo. 
Parabéns meu amor. Esqueceste tudo o que nos havia de caber no peito. Parabéns.

do que há de nós ainda, sobro eu.

cinco

As tuas mãos marcadas nas montanhas 
pequenas da almofada branca. 

12 outubro, 2008

barulhos da casa III

Rabbit in Your Headlights

09 outubro, 2008

sons de dentro III

Eu vim para não chegar. 
Vim para te ver.
Diz-me que saudades tuas são estas 
se eu não sei se é de ti que as sinto.
Meu amor,
Eu vi o nosso amor à venda no jornal.


07 outubro, 2008

barulhos da casa II

Folhas do Outuno passado na berma da janela e o carteiro a passar outra vez pela porta. Dez cartas debaixo dela, a ensopar com a chuva do último Inverno. Eu, de pés descalços, a ter frio.
Os meus braços partidos, os meus olhos ensupados de outra chuva, os meus pés descalços a ter frio. E se ao menos tu ao meu lado na cama, os meus braços nos teus e os teus pés na minha perna a tremer. As raízes, as coisas que vêm debaixo, as cortinas a esvoaçar ao longe, as folhas na berma da janela, castanhas. A chuva a entrar em casa. Os meus braços sozinhos. 
Que nunca chova aos domingos. É dia de nos vermos. 

02 outubro, 2008

quatro

Passos em frente. Trazer no caminho o voltar atrás quando 
choras pelo que há-de ser de nós. 
Ter os teus lábios pequenos, e o sorriso de menina na 
saudade que ainda não pesa. 
A cabeça sobre os braços, os pés sobre a cama, o tremer 
na voz e as estrelas no tecto. 
O tremer nas palavras que mal saem. 
Eu não soube dizer 
passos atrás, começar de novo. 
É melhor começar de novo.

19 setembro, 2008

três

A luz mais acesa, nos olhos a queimar. Cada passo a caber no chão, nos intervalos da calçada, na terra batida, nas folhas do Outono passado. A sala cheia, a espreitar pela janela a lua que só do sótão se vê. A cama maior que eu três vezes, onde eu não durmo. A luz mais acesa, nos olhos a queimar. Quero um beijo que fique. Embrulhado em papel de jornal. Queimar todas as cartas que tenho. Começar de novo. Fingir que é me é novidade esse teu olhar branco nos lábios, esse teu puxar pelo nossos braços juntos. Quero uma fotografia nossa no céu. As tuas unhas pintadas, as tuas dedadas no vidro guardadas em fotografias numa caixa pequena, debaixo da cama. 
Dou-te as mãos, tudo aqui. Tudo longe. Para não ficarmos aqui.
A luz mais acesa, nos olhos, a queimar. A tua voz mais alta que a minha e a boca fechada. 
A luz mais acesa, nos olhos, a queimar, para não ficarmos aqui.

15 setembro, 2008

barulhos da casa I

Os óculos de sol, a chover lá fora. 
O teu dedo mindinho num tic-tac sobre a mesa com garrafas vazias. 
O teu mau hálito e o tic-tac nervoso. 
Tenho tantas saudades. 
O polegar torto, com a unha pintada, a bater na mesa. 
O mindinho a bater também. 
O dedo do pirete parado, sempre parado. 
E entre os dois, o dedo dos anéis de noivado, não tinha nenhum anel. 
Eu tinha o meu posto, com a marca na pele que sei lá quantos anos tenho. 
Aquele bocado de pele, que há anos não havia de ter visto 
sol era o pedaço no corpo que mais meu me era. 
O não saber há quantos anos tenho os meus braços nos teus, pesa-me. 
Devia marcar no calendário no fim de cada dia, uma cruz, 
por cada respirar ao mesmo tempo,
por cada lábio teu nos meus, 
por cada merda que a gente passa e esquece.

14 setembro, 2008

sons de dentro II

Tenho-o na mão, redondo, feio. 
Metade do sonho é meu. Tenho as malas feitas. 
É deste abraço (os meus braços nos teus, agora) 
que me vou lembrar. 
Amei-te tão mal...

12 setembro, 2008

sons de dentro I

Nada de abraços, nada de 
-Adeus.
Amar não tem metade do pó a pairar, metade do peito cheio.
Nem um 
-Adeus.
Parecem sons de dentro. A saudade a meter medo.
Nada de abraços.
-A saudade há-de vir.


11 setembro, 2008

dois

Os nós cruzados, as teias de fios brancos enrolados para rasgar de vez. Não há tempo para te amar e o tempo ri de nós. Nós cruzados, como braços. Não há ninguém que quebre por lado nenhum. Dizer adeus de vez às casas que queimam, às luzes que não acendem, à saudade que nos pesa mais que há uns anos. A cabeça passa outro dia à frente e conta os que o silêncio fez por deixar atrás. Na mesa, nada. Damos braços, como nós. O meu retrato sem mim, o nosso abraço sem os meus braços lá, o meu beijo sem os meus lábios lá, tudo sem mim, sem eu lá fazer falta. Não quis dizer nada, mas eu faltava. Eu nunca lá estava. Tu sabes. 
- Eu sei.
E eu conheço-te pela palma da mão, reconheço-te nas linhas, nos braços. Não estavam lá os meus ouvidos, não queria que ouvissem: Há quem me viva no peito. Moram-me lá as memórias e o tamanho dos nós, dos braços cruzados como bandeiras que se içam em terra mãe. Nunca há-de ser dia de lembrar a maneira como choras, a guardar lágrimas nas mãos em concha. Lembrar que como as de mais ninguém, as tuas mãos cabiam nas minhas. Ainda hoje hão-de caber.

um

Entre os olhos, guardo um nariz torto que torce pela idade que não passa. Os lábios não os lembro e o queixo, que é meu, pouco mais me diz. É nos olhos que eu me conheço. No pescoço, onde a barba tarda em ficar, guardo um sinal, mais pequeno que o que me mora na bochecha. Entre o pulso magro, os dedos finos e o braço esquelético, sobram as pernas debilitadas de poucos passos dados entre a ida e a volta e uns ombros que carregam estrelas e livros que nunca hei-de ler para além das palavras simples. É nos olhos que me conheço, onde fico quando vou buscar ao medo o pânico e ao pânico uma história melhor.