
28 fevereiro, 2009
vinte e quatro

22 fevereiro, 2009
vinte e três
17 fevereiro, 2009
08 fevereiro, 2009
vinte e dois
07 fevereiro, 2009
vinte e um
16 janeiro, 2009
vinte

10 janeiro, 2009
dezanove
09 janeiro, 2009
05 janeiro, 2009
dezoito

01 janeiro, 2009
dezassete

27 dezembro, 2008
dezasseis

Sei quantos passos foram os que dei até aqui. Sei como ter tudo de volta e voltar. Mas não sei se não é aqui que me quero, a meio caminho de lado nenhum, a ver-te passar. Tenho um ponto escrito na mão e não sei o que era para lembrar, tenho a boca seca de não beijar nada que não vento. Tenho as mãos em concha, a carregar terra, a plantar saudade debaixo. Quero nascer aqui. Ser de onde nunca estive, para tudo ser novo uma e outra vez. Vou escrever histórias do avesso, que comecem onde já só há que olhar para trás e ver de onde é que viemos. Hoje não me sigas,e parte pela noite dentro, à caça de nuvens. Encontramo-nos de certeza.
quinze
22 dezembro, 2008
catorze

“Nunca chorei.”, disse. A mão esquerda a tremer no bolso, a ir depois buscar a lágrima ao olho, a cortá-la pela raiz. A mão direita quase a querer o braço, a segurar mal a mala mal fechada, de ter saído à pressa. Lembrava-me de ali ter estado, mais novo, e umas quantas folhas a mais nas árvores. Quando chovia, em pequeno, empoleirado sobre o banco alto, com os pés entrelaçados, punha o dedo pequeno debaixo da telha furada. Nunca passavam carros para me ver. Era uma coisa minha. O resto da mão fechada e o dedo indicador a segurar gotas de chuva. Depois, se apanhava uma, pisava-a debaixo do olho e via-a cair. “Mãe! Estou a chorar!”. Dizia-me que não. Que quando se chora, os dois olhos quase que liquefazem, ficam vermelhos e a cara vira do avesso uma dor miúda. “Nunca chorei”, e eu tentei.
Hoje, cedo, quebrava a promessa. Lembrei-me do que éramos para ser, quis ver-te. Quero ver-te. Vou dando passos, a ver quão longe é preciso estar para abrir mão do que tenho de quando ainda éramos, e nunca fomos. Tenho pensado em nós. Queria abrir um livro em branco, escrever o teu nome e fechá-lo. Esquecer-te assim. Pôr o livro num pilha feita de outros tantos iguais, para esquecer. Não tinha que aqui estar, assim.
Lembro-me de em pequeno contar gotas de chuva e conseguir. Sabia sempre de cor, um dia depois, quantas gotas tinham chovido ontem. Já as contei de olhos fechados, a meio sono, a dormir. Lembro-me de, de olhos fechados quantas ouvia cair no chão, e não dormir mais para não perder em números. Estrelas já não. E eu tentei. Nunca se hão de conseguir contar estrelas. Lembro-me de tentar em noites que passava a esquecer-te. E havia sempre mais uma, no canto do olho, e mil por detrás dela. Lembro-me de as querer roubar, em pequeno. De saber as minhas histórias de cor, para me adormecer feliz. Lembro-me de trazer chuva no bolso para chorar. Ainda não me esqueci de ser pequeno e querer crescer, tão alto quanto nuvens, para roubar estrelas e pintar o sol de outra cor. Lembro-me de caber nos teus braços e querer contar, a par de estrelas, e chuva e saudade, o quanto gosto de ti. Lembro-me de querer escrever o teu nome onde quer que fosse. E escrevi-o num banco de jardim. Mais nada que não o teu nome. E daí o ter vindo à pressa. Quero vê-lo. Ver que não foi assim há tanto. Ainda te quero ver. Quero ver, pelos olhos que não choram, que há árvores agora, com umas tantas folhas a mais. Que tudo mudou, que tudo foi atrás. Mas que o nome escrito no banco de jardim, não. Que há coisas que ficam para lembrar que há coisas que vão.
20 dezembro, 2008
treze
16 dezembro, 2008
doze
13 dezembro, 2008
06 dezembro, 2008
dez

22 novembro, 2008
nove

21 novembro, 2008
oito
14 novembro, 2008
sons de dentro VI

06 novembro, 2008
sete
26 outubro, 2008
sons de dentro V
barulhos da casa IV
24 outubro, 2008
16 outubro, 2008
seis
12 outubro, 2008
09 outubro, 2008
sons de dentro III
07 outubro, 2008
barulhos da casa II
02 outubro, 2008
quatro
19 setembro, 2008
três
15 setembro, 2008
barulhos da casa I
14 setembro, 2008
sons de dentro II
12 setembro, 2008
sons de dentro I
11 setembro, 2008
dois
um
Entre os olhos, guardo um nariz torto que torce pela idade que não passa. Os lábios não os lembro e o queixo, que é meu, pouco mais me diz. É nos olhos que eu me conheço. No pescoço, onde a barba tarda em ficar, guardo um sinal, mais pequeno que o que me mora na bochecha. Entre o pulso magro, os dedos finos e o braço esquelético, sobram as pernas debilitadas de poucos passos dados entre a ida e a volta e uns ombros que carregam estrelas e livros que nunca hei-de ler para além das palavras simples. É nos olhos que me conheço, onde fico quando vou buscar ao medo o pânico e ao pânico uma história melhor.