16 abril, 2009
trinta
O que foi de nós, quem fui, vem comigo. Trago-o às costas e um mapa para não me perder muito longe. Ainda em casa oiço o telefone não tocar. Nunca és tu. Não ouço notícias tuas há demasiado e tenho medo que tenhas seguido viagem também. A cruzarmo-nos numa rua qualquer duma cidade que não sei qual, tenho estudado o que dizer, como sorrir. Hei-de ter medo no lado direito do lábio superior a querer morder o debaixo, e depois solto um sorriso rasgado. Vais dizer "vai-se andando" ou "está tudo bem, obrigada" porque dizes sempre obrigada e não obrigado. Ainda não sei ao certo qual dirás, depende do tempo que passar até nos cruzarmos. Se for "vai-se andando" hei-de sorrir e mostrar na covinha das bochechas que tinha medo por ti, do que quer que fosse. Se "está tudo bem, obrigada" largo os lábios um do outro e sorrio rasgadamente, a brilhar dos meus olhos castanhos que pouco ou nada brilham. Depois, sigo viagem, chuto pedras pequenas pelo caminho que hão de rolar sobre o passeio cheio de poças e hei-de me olhar ao espelho de um carro para ver quão bem afinal me saiu o sorriso. "Saiu bem" hei-de pensar. Dobro a última esquina a caminho de casa e lembro, a disparatar sem querer, uma vez que te disse "és o que quero para nós".
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1 comentário:
fodass, brutalíssimo :D
"Ainda em casa oiço o telefone não tocar. Nunca és tu"
e tudo e tudo
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