14 julho, 2009

trinta e quatro




Desci as escadas do prédio, a poisar o pé degrau sim, degrau não. Viro a esquina, e antes de atravessar a estrada, deito o olho às flores do jardim apertado do prédio. Ao meu lado para atravessar a estrada, uma menina de t-shirt branca, de cabelo curto, com um ramo de flores na mão. Fazia uma semana que tinha mandado imprimir em A3 uma fotografia do teu sorriso na papelaria perto de casa. Entro e a rapariga da papelaria entrega-me as folhas para a mão. Enrolo as folhas por baixo do braço direito e saio de mãos mergulhadas no casaco comprido. É verão e não saio à rua sem casaco, por falta de roupa limpa em casa. A pilha de louça suja também cresce, já quase cai e já não dou um passo sem dar conta que a casa precisa de ser arrumada. Chego a casa, subo degraus aos passos largos, digo adeus a quem passa. Espalho as folhas pela cama feita. Rasgo cada uma em rectângulos pequeníssimos. Amontoo os pedaços no chão, vou buscar debaixo da cama uns quantos que fugiram e arregaço as mangas da camisa de que gostas. Ponho as mãos em concha e encho-as de pedaços de pequenos do teu sorriso. Peça a peça, junto os bocadinhos de papel, da esquerda para a direita. Ouço fechar a porta do prédio, se calhar és tu. Balanço para trás, de joelhos no chão, dormentes, e sorrio, “está quase”. Engano-me uma ou duas vezes, pelo caminho. Não tenho jeito com puzzles grandes, embirro como em puto. Como tu, apetece-me pôr os punhos colados às bochechas vermelhas e suspirar. Acabas sempre por rir depois de o fazer. Ficas linda quando o fazes, quando tentas ficar séria logo a seguir. Monto mais uma mão cheia de peças e tenho saudades do teu cabelo ruivo, curto, sobre o meu ombro, contigo a soprar-me no pescoço a brincar. Ouço fechar a porta de casa. Monto o último pedaço de papel. Levanto-me com as duas mãos, aperto os joelhos dormentes, olho para baixo. Olho pela porta, e para o chão de novo. Construí o teu sorriso, amor.

3 comentários:

Guardião disse...

só tenho três palavras:
BE-RU-TAL
não, mas a sério, tem aí cenas mesmo lindas.

chocolate disse...

ainda não li. mas cheira mal...

chocolate disse...

agora já li...eu acho que estás apaixonado por mim.. eu não sou ruiva, mas o daltonismo explica isso...

não dá, desculpa! o texto está bonito e tal e até me pôs a sorrir...mas não dá...