23 agosto, 2011

sessenta e seis


Tive de arranjar óculos, vestir-me como deve ser. O cabelo tem de sair bem arranjado, o nó dos atacadores dos sapatos pretos tem de ficar bem dado para sair porta fora. Não posso beber um copo a mais. Os óculos já deixam a marca no nariz, a que eu meu pai tinha sempre. Passava bem com isto de ver mal ao longe. Não precisava da marca no nariz, a que eu meu pai tinha sempre. Vou em pontas de pés à janela para te ver à espera já à porta do prédio. Havíamos de nos despachar. Temos gente à espera. Mas uma dose de calma não fazia mal a ninguém. Não te fazia mal nenhum. Tinhas de puxar da merda do cigarro. Não demoro mais que dois minutos, e puxas da merda do cigarro. Há um espelho alto na sala. Ponho-me em cima da mesa pequena para as revistas, os sapatos pretos, o fato de cerimónia, as mariquices todas. Mas se tu fumas, eu fumo. Puxo dum cigarro. Afinal isto leva mais que dois minutos. Deixo-te à espera, fico a imaginar a tua birra. Olhos nos olhos com o espelho. Sou um filho da puta dum puto mimado, meu amor.


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