02 novembro, 2011
setenta e dois
Se eu nunca tivesse dito um "Amo-te", era hoje que o dizia e hoje tudo tinha uma primeira vez. As palavras a nascerem como eu nasci, com os seus devidos meses de gestação, a crescerem por aqui dentro. A sala de parto onde não há onde como respirar, onde o tempo se arrasta e se atropela sozinho em horas e horas de tudo, somos sacos de porrada meu bem. E se eu nunca tivesse dito um "Amo-te", assim ficávamos, num círculo que se faz torto (a fazer lembrar as notas de merda de uma escola que me tentou fazer pegar num lápis, veja-se lá, para riscar e pintar e desenhar e o raio que os parta a todos), à volta de uma mesa, a ver quem pegava primeiro no recém chegado, no menino de ouro, na palavra-mãe disto tudo: os meus olhos nos teus, as tuas mãos do tamanho das minhas, a mania de parecermos peças de puzzle (um não muito grande, coisa divertida de montar). Os braços como a segurar um bébé, para não aleijar ninguém. Não fosse o já ter sido, e era hoje que nascíamos, os dois ao mesmo tempo. Gémeos nisto de mimarmos à exaustão os defeitos ridículos um do outro (o meu nariz torto, aqui, para o que der e vier). Quanto dinheiro temos? Quanto tempo temos? Vou ficar a olhar para o telemóvel até mexer, de notícias tuas. Despacha-te, meu bem
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