12 dezembro, 2011

oitenta e dois

Venham ver o que fiz. Meia dúzia de árvores feitas meia dúzia de folhas. Um poema escrito no chão com a única água que tínhamos. Se tivermos sede, a chuva há de vir ter connosco. Deixei um mapa a dizer para onde íamos. Se ficarmos quietos, o mundo gira sozinho. Meio palmo enterrado no chão. Lama e miúdos a fazerem pinturas de guerra. Nunca hei-de ser pai do que já é nascido. Nunca hei-de ser pai então. Tudo nasce depois de mim a partir de agora. Sou um ano zero. Mil anos depois de mim, meia dúzia de dias antes de mim, e por aí fora. Amanhã acordamos cedo, subimos a montanha, seguimos para a praia. Mar adentro com mil casacos vestidos por cima uns dos outros. Temos tanto tempo para sermos miúdos. Tudo é maior que eu. Mas se me puseres no topo da montanha (contigo às minhas cavalitas), somos mais altos que tudo. E é o que importa. Tenho a nossa altura, tenho a nossa idade. Somos o ano zero. Nasci quando dei conta das minhas saudades tuas. Amanhã faço anos. Todos os dias faço. Fazemos, aliás.

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