O vão de escada roído e os degraus das escadas amontados, roídos também. Está frio cá fora. Um menino de gorro e casaco vermelhos a escrever com um lápis de cor nas lombas dos degraus um nome, de uma menina. Desço e vejo, em todos os degraus, o nome da menina. Rio-me baixinho. Ele frenético a escrever degrau sim, degrau sim, as quatros letras do nome da menina. E eu rio-me baixinho de novo. Eu a ver que o mesmo nome, me diz o mesmo. Tento puxar do bolso do casaco grande um lápis também, mas nem o procuro. Tenho idade para ter juízo e não para escrever nas lombas de degraus corações pequenos e mal feitos. E o menino pequeno, a correr sozinho, a amar mais. Desenha metade de um coração e pára, volta-se, olha-me nos olhos.
Vira-se outra vez, desenha a outra metade.
Tiro o peso dos ombros, tiro a mão direito do bolso fundo e dou um jeito no cabelo sobre os olhos. Peço-lhe o lápis vermelho. Subo os doze degraus e no cimo das escadas, no canto mais alto da parede, em bicos de pés, escrevo o teu nome.
1 comentário:
é tão familiar, lembro-me disto!
Fodass, mas há sequer palavras pa dizer o quão lindo está ?
Enviar um comentário