A bola de novelo a rodar, a ponta do fio enrolada à volta do dedo pequeno do pé descalço da mulherzinha. O gato corre debaixo da cama, puxa-lhe a saia, morde o novelo e empurra-o pelo quarto fora. O barulho das pedras na janela, dos miúdos que detestam a mulherzinha por tudo e por nada. A menina do apartamento ao lado sai de casa e não leva chapéu-de-chuva, que leva sempre. Deve-o ter perdido ou não ouviu na rádio que dava chuva. Entretanto o gato foge com o novelo de fio roxo pela escada em caracol e deixa-o fugir. A porta da entrada estava aberta e o gato foge com o novelo. Agora desce as escadas do prédio. O novelo de fio roxo acaba, a bola feita em nada. O gato está à porta do prédio, a rolar em cima de folhas no chão, da planta ao lado que morreu há meses. Chove a cântaros. A menina do chapéu-de-chuva vermelho, volta com um jornal a tapar o cabelo. Não tinha ouvido a rádio de manhã. A mulher que no prédio dizia sempre quando chovia tinha adormecido, e o gato tinha-lhe fugido com o novelo de fio. A menina ao entrar no prédio vê o gato, reconhece-o, pega-lhe pela barriga. Sobe as escadas todas e bate à porta da mulherzinha, dona do bicho. Ninguém responde que a mulher está a dormir, ferrada na cadeira, com uma revista de arraiolos nas pernas. A menina leva o gato para casa, deixa-o no sofá. Passeia-lhe a mão pela pele, improvisa uma taça para lhe deixar comida. Estende-lhe uma manta no canto da sala. Decide esconder o gato da velha durante duas semanas. Depois deixa-o à porta da velha com uma fita e um laço dado no pescoço, a lembrar uma prenda.
1 comentário:
ás vezes engasgamo-nos a dizer, mas os dedos não têm gasganete para tal, portanto:
Tens talento, puto!
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